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Entrevista: Angeli

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Em 2023, a coleção Expressa voltou reformulada, agora em coedição com a Ugra Press. Nesta nova “dentição”, os livros mantiveram a mesma estrutura de entrevista e antologia do quadrinista homenageado, mas com um novo projeto gráfico. Para a retomada da Expressa, foi escolhida uma edição mais do que especial, de Angeli, um dos mais geniais cartunistas da nossa história, criador de personagens emblemáticos como Rê Bordosa, Bob Cuspe e Skrotinhos, entre outros. Como Angeli se encontra doente, não podendo realizar uma entrevista exclusiva, foi elaborada uma compilação de respostas do autor em diferentes entrevistas já publicadas, sobre temas relevantes da sua obra. Segue aqui um trecho da montagem final publicada na Expressa:

TRANSIÇÃO DA CHARGE POLÍTICA PARA A TIRA COMPORTAMENTAL

Eu parei com a charge em 1982. Antes disso, participei de vários jornais alternativos, tipo Movimento, Versus, que eu ajudei a fundar, publiquei muito no Pasquim e outros pequenos jornais. Enfim, eu tinha um certo espaço conquistado como chargista político. Mas aquiLo era uma tortura para mim que não acreditava muito na charge politica naquela época. Não era a minha cabeça. Guardava na gaveta do meu estúdio vários rabiscos de personagens que tinham a ver com a minha vida. O Tudo Blue, que era um hippinho, e que hoje eu não o desenharia de jeito nenhum. Faria a coisa com uma visão mais crítica, como é o caso do Wood e Stock, os hippies velhos. Mas era algo muito próximo do que eu vivia. Eu fui um hippie mesmo, cabelo nas costas, mochila, comunidade, ácido no bule de café para todo mundo tomar e coisas assim. Quando entrei na onda da charge política, eu virei um militante cinza.

Aquilo me encalacrou. Fui trabalhar para editoras que serviam ao Partido Comunista. Quando senti que estava entrando para um buraco sem saída, eu olhei aqueles rabiscos de personagens guardados na gaveta e pensei: a minha vida está muito mais nessa gaveta do que nas coisas que saem diariamente na Folha de S. Paulo. Eu não tenho o olho de analista político. Sou mais mundano, tenho uma coisa muito mais próxima daqueles três tópicos que são o sexo, as drogas e o rock’n’roll. Então, por que não desenhar isso? Fui até a direção da Folha e falei que queria parar com a charge e ir para o caderno de cultura, que era a Ilustrada. Eles pediram um projeto e uma semana depois eu apresentei um esquema que a princípio não era tira, mas uns quadrados como são as histórias dos Los Três Amigos. Chamei de Chiclete com Banana. Tinha o Tudo Blue, o Moçamba – um crioulo que queria voltar para a África, tinha o AI-5, que queria reprimir os outros. Essa foi a minha reentrada para os quadrinhos. Naquele momento eu achei que nunca mais faria charge política.

CIRCO EDITORIAL E CHICLETE COM BANANA

O Toninho Mendes é meu amigo de infância. Eu o conheci acho que com 12 anos. Éramos da mesma turma do bairro e tínhamos vontades parecidas. Ele sempre quis mexer com desenho ou com edição. Nós começamos juntos. Havia um estuduiozinho nos fundos da casa dele, e nós produzíamos papel de presente para uma gráfica na Freguesia do Ó, fichários com montagens de grupos de rock. Naquela época era mais difícil encontrar informações sobre bandas novas, e nós tínhamos uma coleção de fotos de tudo quanto é banda. Daí montávamos coisas com o cara do Tem Years After montado nas costas do Rod Stewart que passava a mão na Janis Joplin, assim por diante. Fizemos até embalagem para remédio. Até que eu entrei na Folha e ele foi para outro lado. Perdemos o contato diário mas ainda nos víamos de vez em quando.

Até que um dia, no começo dos anos 1980, ele editou um livro de charges do Chico Caruso, o Natureza Morta, e a gente se encontrou na Folha. Ele propôs que fizéssemos um livro, uma editora. Eu tinha um compromisso com o Luiz Schwarcz, que na época estava na Brasiliense, de editar um livro com as tiras feitas até então. Eu pensei um pouco e falei: peraí! O Toninho tá com um puta tesão de montar uma editora e eu sempre quis participar do nascimento de uma. Falei com o Schwartz, que eu achava que aquele material, por não fazer a linha da Brasiliense, ficaria perdido no meio de todos os outros títulos da editora, e que eu ia tentar com o Toninho. Começamos publicando um livro do Bob Cuspe. Vendeu rápido, chegando à oitava, nona edição em pouco tempo. Fizemos um lançamento no Rádio Clube no dia da votação das Diretas. Pusemos um telão lá, e foi uma loucura! Três mil pessoas! Todo mundo estava lá, Titãs, Ultraje a Rigor, Ira, artistas plásticos. Foi um rebu. Acho que teve muito a ver com o momento, a coisa das Diretas Já.

Depois de seis meses, lançamos mais um livro, e foi um sucesso também. Com isso na mão, o Toninho achou que não dava para ficar parado numa livraria. Então veio uma proposta da Brasiliense de fazermos uma agenda – Agenda Angeli – com os personagens. “Fazer uma agenda?”, o Toninho falou, “puta trabalho! Quer saber de uma coisa? Vamos fazer uma revista de uma vez!”.

A expectativa era fazer dois ou três números e acabou. A imagem era da revista ser encontrada só em estante de colecionador, coisa assim. Só que no primeiro número a gente triou 25 mil exemplares e vendeu 20 mil. No segundo, 35 mil e vendeu 34 mil. No terceiro, tiramos 40 mil e vendeu 39 mil. Pá! A coisa deu certo! No número 7 ou 8, chegou a 110 mil exemplares! A edição da morte da Rê Bordosa vendeu 98 mil exemplares! Eu achei que ia ficar rico. Já estava até escolhendo o modelo do iate.

Nós aprendemos muito. Principalmente que é preciso ter alguém com cabeça de empresário no meio. O tesão e o poder de realização do Toninho pediam uma parceria com uma cabeça financeira. De qualquer forma, o Toninho Mendes mudou o quadrinho brasileiro. Provou que é possível fazer quadrinho brasileiro vendável.

 REVISTA CIRCO

A revista Circo foi super importante. Mostrou que para se fazer uma revista é preciso ter um motivo. Não basta reunir uma porção de histórias e pronto, sai uma boa revista. Não. Tem um objetivo, um discurso. Tem que ter um fio condutor, uma linha editorial. A Circo provou que é possível se fazer uma revista mesclando autores nacionais e estrangeiros. E com a batuta do Toninho Mendes, da Laerte e do Luiz Gê. Ela influenciou muita gente, a própria revista Animal inclusive. Quando ela surgiu eu estava muito envolvido com a Chiclete com Banana e por isso não participei do projeto. Era um tesão receber a revista recém-saída da gráfica e folheá-la como um leitor. Eu admirava muito esse trabalho, sempre gostei muito dos trabalhos da Laerte e do Luiz Gê. O Gê carregou a ideia dessa revista na cabeça durante uma década. Quando o Toninho abriu as páginas em branco na sua frente, ele já sabia exatamente o que por nelas. Eu admiro o Luiz Gê por isso, por ter um ideal, por buscar isso até o fim. Uma coisa importante nisso tudo foi a vendagem alta da Chiclete, que deu condições para o surgimento da Circo, da Geraldão, da Piratas do Tietê, da Niquel Náusea, todas essas outras revistas da editora. Eu me sentia bem por isso.

O HUMOR

O fato do Chiclete ser voltada para o humor foi determinante para o sucesso dela. Isso é uma coisa do brasileiro. Qual cinema brasileiro deu “certo”? A chanchada, não foi? É o cinema do escracho, da gozação. Por que o Pinião não deu tão certo quanto o Pasquim? Por isso, faltava humor. Isso está dentro do brasileiro. Pelo próprio tipo de pessoa que veio fazer a colonização aqui. Vieram os renegados de Portugal, isto aqui era quase uma colônia penal. Isso transformou o Brasil num país de chacotas. Por um lado é super importante pelo desprendimento, mas por outro é um perigo, porque isso também está na política. Eu vejo um país que não se leva a sério de forma nenhuma. É muito aquela visão de que o artista internacional que vem para cá está em fim de carreira. Isso não é verdade. É um auto menosprezo que me irrita profundamente.

O humor do Chiclete foi desenvolvido na trilha da transparência, mostrando o ser humano completamente despido, como ele realmente é. O leitor vai se identificando por que aparecem coisas que são do seu cotidiano universal. E para isso o autor também tem que ficar transparente. É uma maneira de cutucar, de dar uma alfinetada na bunda das pessoas: “levanta e anda, faça alguma coisa!”

Eu me lembro do Carlos Estevão. Ele é uma influência muito forte para mim. Não só pelo Amigo da Onça, que acho que só foi bom com ele, mas seu trabalho como um todo. Ele traçava as pessoas exatamente como elas eram. Lembro de uma cena de um furgão numa praia, com um varal estendido, uma família fazendo churrasquinho, uma verdadeira zona dominical em volta do furgão. Na porta do carro lia-se: “Secretaria do Bem Estar Social”.

Quem nunca viu isso? O cara se identifica no ato. É essa identificação rápida que o Chiclete com Banana conseguiu desenvolver. Eu tentava falar das coisas que vivia: temas urbanos, juventude, e principalmente não tentar ser mais velho do que eu era – defeito que eu vejo em alguns cartunistas que acabam ficando com cara de deputado – tinha também a coisa do dark, do punk do neopsicodelismo. Eu não me excluo desse mundo, sou igual ao meu leitor.

PERSONAGENS

Nenhum dos meus personagens é uma pessoa específica. Vou montando o personagem aos poucos, mas ele só começa a ficar gostoso quando eu começo a pôr minhas coisas nele. Todos os personagens tem uma boa dosagem do autor.  Mas eu também absorvi muito essa coisa do cronista, de observar as pessoas. Eu frequentava muito o bar Riviera, na Consolação, e foi quase um laboratório para mim. No Riviera, conheci outros cartunistas, escritores, poetas, jornalistas, todo tipo de gente. Foi uma escola. Antes da minha geração, ele era frequentado pela turma do Caetano, Gil, Chico. Aprendi muito, briguei, quebrei o bar, roubei vinho, criei personagens inspirados em frequentadores, casei e me separei lá dentro. Lamentei muito o fim do Riviera. Ele deveria ter sido tombado pelo patrimônio histórico dos malucos de São Paulo. Foi lá que me formei e aprendi muito daquilo que não consegui aprender na escola. Ficava de orelha em pé, pegando as conversas e tentando entender tudo o que ouvia.

Um dia, no Riviera, no banheiro dos homens, vi uma mulher fazendo xixi em pé. Estranhei e ela disse: “Depois da quinta dose eu faço coisas que até Deus duvida”. Marcou na minha cabeça e um tempo depois fiz uma tirinha assim com a Rê Bordosa. É a coisa da observação que eu vou colhendo e colocando no meu trabalho. Já me droguei, fiz sexo errado, já acordei numa cama que eu não sabia de quem era.

Todos os meus personagens estão em certo espectro da sociedade, que é o da marginalidade. Às vezes me pergunto por que essa minha fascinação pelo outsider, pelo cara que não dá certo, que anda torto… É tão natural pra mim. Fui caindo nessas coisas. Se vou criar um personagem, logo vou pro cara mais roto, mais esfolado. Tem gente que por isso acha que eu lambo o chão. Isso acontece porque o meu trabalho é ligado ao lado sujo da vida. As pessoas confundem o criador com o personagem. Por escolher esses personagens outsiders, as passo a impressão de que não saio com meus filhos para passear, que não sou carinhoso. E é claro que não é verdade. 

RÊ BORDOSA

Eu criei a Rê Bordosa de uma maneira desleixada. Eu havia tido uma noite de viração – eram os anos 1980 – e a minha mulher na época falou: “Ih, você tá de rebordosa, hein?” Essa era uma expressão que a gente usava bastante. Está até no dicionário. Eu tinha que mandar a tira para o jornal às oito da manhã. Eu estava imprestável e falei: “não vou conseguir desenhar uma tira com começo, meio e fim. Vou desenhar uma pessoa de rebordosa”. E daí dividi o nome e ficou Rê Bordosa. Rê é ótimo porque pode ser Renata, Regina, e Bordosa parece sobrenome, como Barbosa. Daí eu desenhei a personagem na banheira, conversando ao telefone e perguntando: “o que eu fiz ontem à noite?”. A pessoa responde que ela bebeu muito, sibiu na mesa do bar, tirou a roupa e dançou. Aí ela afunda na banheira e a água transborda. No outro dia, logo de manhã, uma amiga me telefonou e perguntou: “pô, quem foi que te contou essa história?”

Eu fui pra redação, um jornalista disse: “puta personagem!” E eu não acreditava nela. Mas tanta gente elogiou que eu resolvi seguir na tira. A Rê Bordosa estourou, pegando tudo quanto é tipo de leitor. Da mulher que estava começando a entender o sexo, com quinze anos, caindo na gandaia, até uma mulher que já estavam com mais de trinta, olhando no espelho uma estriazinha aparecendo, o seio caindo. Foi uma coisa quase que unânime, onde eu ia falavam da Rê Bordosa, cobravam, eu não podia entrar num bar.

No lançamento do livro dela, era uma fila de mulheres pedindo autógrafo, e todas diziam: “cara, eu sou a Rê Bordosa”. Eu também era assim. Fiz cada coisa… não convém nem lembrar. Mas é assim, os personagens se formam a partir de uma observação, aí eu os trago para o meu mundo, para as minhas angústias. Desenvolvi a personagem, mas comecei a me cansar porque percebi que a Rê Bordosa, por mais que estivesse me dando projeção, me limitava. Eu não me empenhava tanto, porque só a cara dela já fazia rir. Mas comecei a pensar no Schulz, que fazia o Snoopy. O cara ficou 50 anos no mesmo personagem.

Daí eu decidi matá-la. Mas também porque eu crio um personagem pensando um momento. Veio a aids, todo mundo tendo que usar camisinha. Pensei: “A Rê Bordosa não vai dar certo nesse mundo”. Aí comecei a pensar na morte dela. As pessoas davam opiniões: “Ah, mata de overdose”. Mas aí eu ia dizer que droga mata. Ou: “Mata de aids”. Aí eu ia falar que sexo é impossível. Foi quando li sobre pessoas que se casam com amigos para se proteger.

Eu achei isso uma atitude muito reacionária. Então a Rê Bordosa acabou se casando com um amigo, o garçom do bar que frequentava. Começou a comer bombons, a engordar, ver novela, e explode na hora em que o marido fala sobre ter um filho. Foi a morte pelo tédio. Ela contraiu o vírus Tedius matrimonious.

OUTROS PERSONAGENS

Quando a Rê Bordosa estourou, porra, eu comecei a me achar demais, o ego deu uma inflada. As pessoas vinham dizer que me adoravam, que acordava e a primeira coisa que faziam era ler a minha tira, e eu dizendo: “pô, eu sou demais!” Aí fiz o Walter Ego, porque achei que estava na hora de dar uma baixada de bola, eu não me aguentava mais. Decidi construir um personagem, inclusive para funcionar como uma espécie de terapia, era uma maneira de eu perceber o quanto era ridículo ser o Walter Ego. Em certos momentos, quando eu inflava, eu só pensava nele.

Depois, com o Bibelô, era a mesma coisa. Sou de família italiana, da periferia, me educaram acreditando que mulher fosse um enfeite, um adereço para minha vida, uma coisa pra eu usar e jogar fora, tipo açougue. No italiano, principalmente, isos é muito forte. Uma vez num bar, uma amiga veio me dizer que eu chegava a incomodar, atacando todas. Aí comecei a rever essa postura, saquei que era verdade, devia ser chato pra cacete aquilo de ficar ali lançando olhares, querendo caçar todo mundo. Então fiz o Bibelô. Quando eu me empolgava era só pensar como o Bibelô é ridículo. É uma terapia, uma forma de terapia.

Todos esses personagens foram resolvendo coisas minhas. O Bob Cuspe resolveu certa vergonha que eu tinha de ser da periferia, de família classe média baixa. Quando fiz o Bob Cuspe, era pra gozar os punks. Comprei o livro do Antonio Bivar pra me embasar, aí comecei a achar do caralho. Falei: “Sou da Casa Verde, do lado do rio Tietê, que é o cu da cidade, saindo um monte de merda… isso é punk”. Durante muito tempo tive problemas com isso, eu já chegava devendo nos lugares, e o Bob Cuspe me deu um certo orgulho de ser isso.

Já o Meia Oito resolveu aquele meu lado cinza, militante: comecei a checar tudo. Eu morava com gente assim, só me relacionava com militantes políticos, gente que tinha um discurso aberto, progressista, mas nutria um tal sentimento de posse da verdade e da razão que por alguns momentos a esquerda e a direita se beijavam. Vi que essas pessoas não tinham cintura para construir nenhum novo mundo, não tinham felicidade, prazer, antes de trepar pediam a carteirinha ideológica do companheiro. Não perceberam que o prazer é muito mais poderoso e revolucionário que o rancor e a seriedade. São pequenos e insignificantes ditadores de mesa de bar. Daí saiu o Meia Oito. E aí comecei a voltar aos meus tempos de hippie, por isso que fiz o tudo Blue, quera uma maneira de resgatar meu lado mais viajante, mais porra louca. Foi todo um processo pra deixar de ser um esquerdista de direita.

E depois eu fui deixando de fazer esses personagens. Depois que resolvem um lado meu, eles não me dizem mais nada. Então acabei com o Tudo Blue, um personagem que enaltecia o hippismo, e fui fazer o Wood & Stock,  que dão uma casquetada no flower power. Quer dizer, o mundo gira, a Lusitana roda e a gente tem que mudar. Não dá pra ser hippie eternamente. Eu mesmo me vejo em situações com o meu filh oque são típicas do Wood & Stock. O cara ali sentado no sofá viajandão e o filho chega: “pai, olha o meu boletim”. Eu sou Wood & Stock pra cacete! Esses personagens são gomos da minha personalidade, com exageros, com misturas de características de outras pessoas. Mas é desse encontro que sai tudo. 

Um caso diferente foi o Rhalah Rikota. Eu tenho aversão à religião, e fiz ele em homenagem ao Glauco. O Glauco se ligou em Rajneesh, um cara que no final dos anos 1970 ficou famoso. O Glauco sempre teve tendência a cair nesses buracos. Eu falei: “Pô, você fica tendo gurus”. Ele me respondeu: “Rajneesh não é guru”. Daí surgiu a primeira tira do Rhalah Rikota: um bando de discípulos, o Rhalah no meio e todo mundo: “guru! Guru!” Ele diz: “Nãããão, eu não sou guru!” Aí todo mundo: “antiguru! Antiguru!”.

Já os Skrotinhos representam bem essa época de falta de caráter, não são nem mal nem bom caráter, eles não tem caráter. Acho que atualmente as artes plásticas não tem caráter, o cinema não tem, a televisão, o ser humano, a política, a economia. Já que é assim, os Skrotinhos encaram o artista plástico que não sabe pintar, o cineasta que sabe filmar, o escritor que não sabe escrever, o ator que não sabe atuar. Eles enfrentam essas pessoas, tiram um sarro, dissecam as figuras, principalmente o artista plástico, que ultimamente tem enxame. E todos com diploma. Os Skrotinhos cagam nesse tipo de gente.

Quando eu criei os Skrotinhos, foram personagens que gostei muito de mexer. Tinham muito a ver com a minha cabeça naquele momento. É gozado, as pessoas que estão sempre comigo notavam que, dependendo do personagem o qual estava trabalhando na época, eu incorporava ele. Quando eu estava desenhando o Wood & Stock, eu só escutava Jefferson Airplane, música psicodélica, meio hippie. E aí começou os Skrotinhos. Dá eu m tempo e eu viro eles, fico Skrotinho. Parece que é um treino. Então fico escroto, não deixo passar nada. O Glauco também era assim. Quando a gente se juntava… sai de baixo! Nem a gente se aguentava. Começava a tirar sarro de todo mundo, o que pode ser um perigo, você pode perder a medida.

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