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Entrevista: Luís Capucho

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Conheci Luís Capucho num jantar na casa do Rogério Skylab, idos de 2019. Já era fã do cantor capixaba, cria da mesma Cachoeira do Itapemirim que nos deu Rubem Braga, Roberto Carlos e Sérgio Sampaio. Solo fértil. Suas canções, como “Pessoas são seres do mal” e “Quero ser sua mãe”, já são clássicos cults do nosso tempo. Logo, combinamos a entrevista, que foi realizada em minha casa, junto com a Ana Paula Simonaci, e publicada originalmente em Cadernos de Música – Luís Capucho (Revistas de Cultura, 2020).

Luís, como foi a sua infância?

Eu nasci em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Então, eu sou conterrâneo de um monte de gente importante na cultura brasileira. Eu vi uma vez uma matéria dizendo que Cachoeiro de Itapemirim é a cidade pequena onde nasceu mais gente conhecida nacionalmente. Cidade do interior, né? Porque é claro que em cidade grande tem muito mais gente importante. A segunda cidade pequena com mais famosos é Sobral, no Ceará. Eu fiquei feliz. Feliz de ter morado numa cidade de onde veio tanta gente bacana. Eu adorei saber que a Luz del Fuego, por exemplo, era de lá. E o Rubem Braga também. Além do pessoal da música: Roberto Carlos, Sérgio Sampaio…

E a cidade tinha uma vida cultural na sua infância? Havia lá algo que gerasse esse solo fértil de artistas ou você acha que foi acaso todos esses artistas terem

surgido em Cachoeiro de Itapemirim?

Foi acaso. Era uma cidade normal do interior, sem nenhuma grande cena cultural. É claro que a cidade se orgulhava do Roberto Carlos, que tocava em tudo que é lugar. Mas durante a minha infância e adolescência, eu nem fiquei sabendo da existência dessas outras pessoas. Só fui descobrir depois.

Você morou lá até quando?

Até uns 13 anos. A iniciativa de sair de Cachoeiro foi minha, porque com 13 anos eu comecei a sentir tesão pelos amigos, e daí eu percebi que não poderia ficar numa cidade pequena sentido aquilo, porque era muito perigoso. Eu precisava ir para uma cidade onde eu ficasse mais anônimo. A minha mãe era da roça, mais do interior ainda, e tinha ido para Cachoeiro pouco antes de eu nascer. E ela teve outro filho antes de mim, que ela deu para um patrão para criar quando eu nasci. A minha mãe ficou comigo morando nas casas dos outros, dormindo no trabalho, em quartos de empregada. Então eu nunca tive casa. A nossa casa era onde ela estava trabalhando. E isso acaba marcando muito, até porque eu nunca tive acesso a uma cultura que pudesse me informar. Não podia ter disco, não podia ter livro. Não tinha um espaço que era realmente nosso.

Então, quando eu estava com 13 anos, eu comecei a escrever cartas para esse meu irmão, que foi criado por outra família e já morava em Niterói. Eu queria seduzi-lo a me trazer para Niterói, e consegui fazer isso. O meu irmão é nove anos mais velho que eu, então já estava com 22 anos. E ele me trouxe para morar na casa da namorada dele na época. Eles estão juntos até hoje, casados. Daí eu vim e comecei a estudar em Niterói, fazer o segundo grau, o que hoje é chamado de ensino médio, né? A minha mãe não aguentou ficar distante de mim e pouco depois mudou para Niterói também.

A minha mãe conseguiu um trabalho numa cabeça de porco e aí a gente foi morar juntos. Eu me lembro que lá em Cachoeiro eu sentia muita vontade de ter uma casa nossa. E daí, nessa cabeça de porco, mesmo morando uma porrada de gente, era um lugar que eu via como a nossa primeira casa. A gente tinha uma sala, uma cozinha. A minha mãe acabou ocupando o centro da casa, porque era a única mulher que tinha lá. Era uma cabeça de porco que alugava vagas para pessoas que estavam chegando do Nordeste, especialmente de uma cidade chamada Tutoia, onde ficam os Lençóis Maranhenses. Tinha muita gente de Tutoia morando lá.

E nós ficamos nessa cabeça de porco toda a minha adolescência, e mesmo depois que eu me formei no colégio e entrei na faculdade. Primeiro, na Filosofia da UFRJ. Mas foi uma época que eu fiquei meio doido e abandonei o curso. Aqueles livros de filosofia me enlouqueceram um pouco. E, depois, eu entrei na Letras da UFF, em Niterói.

Quando eu entrei na Letras, eu fui colega de pessoas que depois iriam enveredar pela poesia, como o Fred Girauta e o Marcelo Diniz. O Marcelo eu já conhecia de antes, da rua. Eu tinha um amigo de adolescência que era conhecido de um pessoal que se reunia numa escadaria na rua Moreira César. Era um lugar que eles chamavam de buraco e toda a juventude de Niterói ia para lá. Então eu comecei a frequentar e fiz muitos amigos lá. A gente ia e ficava sentados na escadaria, se relacionando. Era um pessoal muito ligado à cultura, tinha o Marcelo, o Fred Martins, que já era parceiro dele de música, o Marcos Sacramento, que começou a compor junto comigo. O Sacramento ia lá pra casa, na cabeça de porco, e a gente ficava às vezes o dia inteiro compondo juntos. Ou deixava uma letra e quando voltava eu tinha feito uma música. Eu sempre tive mais facilidade de fazer música do que letra.

E como foi essa passagem de uma infância sem acesso a discos para o mergulho na música? Como começou o seu contato com a música?

Pois é, eu pensei nisso hoje de manhã, sabia? Eu estava pensando que a música chegou a mim de uma maneira meio invisível. Porque a música é quase imaterial. Ela vai invadindo os lugares sem que a gente perceba. E eu fui muito invadido por música, mesmo não tendo uma discoteca em casa. Quando eu conheci esse pessoal em Niterói, que cresceu com casa própria, eu vi que eles ouviam uma outra música que não era a que chegava para mim. Eu tinha um amigo, o Ricardo, que tinha muito disco de MPB, de rock’n’roll. Eu vivia na casa dele e ficava pensando qual era o prazer de ficar ouvindo aquilo. Porque eu ouvia, por exemplo, o Roberto Carlos, ou um cara que fazia muito sucesso no começo dos anos 1970, o Evaldo Braga. Eram músicas muito diretas, que você ouvia e já entrava em você. Você já entendia o que era. E aquela música que o Ricardo ouvia eu achava sem graça. Não tinha melodia, entendeu?

Eu me lembro de anos depois, quando eu lancei o meu livro Cinema Íris, eu estava conversando com o Antônio Carlos Miguel e eu falei para ele que por muito tempo eu achei que o Milton Nascimento não tinha melodia. Eu custei a entender que aquilo era o contrário: muita, muita melodia. Quando eu ouvi pela primeira vez, eu achei muito estranho. Era uma coisa reta, eu não consegui entrar naquilo. Eu demorei a entender o motivo do Milton é considerado um grande melodista. E ele é um melodista soberbo, né? Com o tempo, eu fui me habituando àquela forma de fazer música e fui me emocionando. Mas é uma música muito diferente da que eu ouvia na minha infância, que era mais popular e direta. É uma música de classe média, que tem outra noção musical e de trato com o público. Hoje, eu até acho que faço essa música de classe média, mas foi algo que fui descobrindo com o tempo.

E quando você começou a tocar violão?

Foi nessa época. Eu comecei a tocar porque o Ricardo já tocava e a gente costumava ir acampar juntos. Nesses acampamentos, sempre tinham várias pessoas que tocavam violão, então comecei a querer tocar também. A minha mãe me deu um violão, mas para mim foi difícil de aprender porque eu não tenho habilidade nas mãos para tocar instrumento. Tem gente que começa a aprender e daí a pouco já está com os dedos ágeis, mas os meus dedos eram meio travados. Na época, existiam aquelas revistas de banca com cifras de músicas e eu comprava e ficava tentando tocar aquelas músicas. Mas eu já estava aplicado em MPB e eram cifras difíceis. Eu tentava e tentava, mas não conseguia tocar. Daí eu comecei a tirar as músicas de maneira mais simples, com dois, três acordes, para não ter que fazer todas aquelas posições da Bossa Nova. E eu fui percebendo, quando fazia os acordes, que já nascia uma melodia. Eu comecei a adaptar as músicas para esse modo menos complicado e me satisfazia tanto quanto.

Como começou a parceria com o Marcos Sacramento?

Foi um desdobramento de ter conhecido o Ricardo, porque ele me apresentou um pessoal ligado ao teatro, do qual o Sacramento fazia parte. O Sacramento sempre teve uma relação com o teatro. E um dia ele falou para a gente ir lá na casa dele fazer música. Ele morava no Fonseca, e a gente ficou a tarde toda na varandinha da casa tentando compor alguma coisa, mas não saía nada. Mas a gente decidiu insistir e ele foi outro dia para a minha casa e deu certo, começou a sair as músicas. Fizemos muitas músicas juntos lá na cabeça de porco.

Como foi a influência da literatura na sua composição?

Olha, eu não sou um leitor sistemático. Então eu acho que essa influência veio meio como a música, entrando sem que eu percebesse. Eu lia uma coisa aqui, uma coisa ali, e aquilo foi me formando. Eu aprendi mais sobre literatura com um amigo que eu tinha, o Ciro, do que na faculdade. Ele morava em Copacabana e eu ia na casa dele, era cheia de livros, e acabava pegando alguma coisa para ler. Mas a literatura não foi uma influência constante na minha música não.

E como você começou a se apresentar em público?

Eu me formei em 1988 e daí fui morar no interior. O lance de fazer shows só começou mais tarde, porque antes fazer músicas era uma coisa doméstica. Eu fazia em casa e guardava. Mas daí começou a aparecer pessoas interessadas em ouvir as músicas, muito por conta do Sacramento. Foi ele que me abriu para o pessoal da música. E daí esse pessoal começou a cantar músicas minhas e eu vi que poderia me apresentar também, que sabia fazer isso e era legal. E daí aconteceu uma coisa incrível porque havia um cara, o Naldo, que morava no Fonseca também, e que tocava pra caramba. Ele tocava muito! E ele foi meio que se chegando, a gente começou a tocar junto e a coisa funcionou. Eu achava incrível que ele, que era um músico maravilhoso, tivesse topado tocar comigo, sabe? Foi com ele que eu fiz um show no Café Laranjeira que depois virou um disco, o Antigo. Esse disco é o único registro que eu tenho dessa época em que eu tinha uma voz mais limpa. É um disco muito marcado pela MPB ainda, embora ali já tenha o germe, o embrião do que eu fiz depois. Mas é um disco mais limpo, mais fácil de se ouvir. Tem gente que me conhece como compositor e só gosta desse disco, porque os outros discos já são de mais difícil audição.

E nesse disco são só parcerias ou tem letras suas também?

Tem música só minha também. Mas eu tinha muito parceiro, porque não acreditava muito assim no meu lance. Até hoje eu tenho dificuldade em acreditar. Agora, por exemplo, eu estou há um tempão sem compor nada. Não fiz nenhuma música, fico só divagando em outras coisas. Talvez eu fique mais interessado agora, porque se juntaram a mim alguns músicos jovens e pela primeira eu consegui formar uma bandinha. Eu vou me apresentar na próxima sexta-feira no Etnohaus, que é um espaço pequeno mas que tem realizado muitos shows legais aqui no Rio de Janeiro, e serei acompanhado por essa banda. O legal é que eles chegaram prontos para a gente tocar, porque já acompanhavam meus discos e conheciam minhas músicas. E tem sido muito interessante essa mudança, porque eu estava acostumado a tocar sozinho e é muito diferente tocar com uma banda.

Mas, voltando ao Antigo, como eu ficava inseguro com as minhas letras, pedia muitas letras para parceiros. E acabou que a forma das letras desses parceiros acabou me ensinando também a fazer minhas próprias letras. Porque quando você vai musicando, vai percebendo o que funciona ou não, o que fica interessante. No final, eu comecei a fazer letras que eu gostava, que me pareciam boas, me satisfaziam também.

Mas eu acho que não sou um poeta, entende? Se for dar um nome para o que sou, acho que sou mais um compositor, que é esse cara que junta a palavra e a melodia e que tem esse trabalho de buscar um resultado que funcione, que fique juntinho. Quando eu componho, eu busco muito que a letra e a música se encaixem mesmo e fique algo inteiro, único. E eu faço muito mais esse trabalho de encontro da letra e música do que pensar a palavra solo da poesia.

Uma vez você me falou que se fosse colocar suas letras no papel, seria em prosa e não em verso…

É. Eu gostei muito quando comecei a ouvir o pessoal de São Paulo, da Lira Paulistana, como o Rumo, que tem meio essa onda de fazer letras que são mais prosa do que poesia. Letras que são meio crônicas e que fogem desse lance da poesia, que é mais comum na música popular. Quando eu vejo as minhas letras, acho que elas seguem um pouco esse caminho. Então eu as imagino no papel mais como um parágrafo do que um texto versificado.

Tem um episódio muito forte na trajetória, um divisor de águas, que foi a coma. Como foi essa história?

Depois que eu me formei, comecei a dar aula. E eu fiquei inseguro de fazer um concurso para uma escola de cidade grande, porque tem muita competição pelas vagas. Então me inscrevi numa cidade pequena, porque achei que seria mais fácil. Eu passei no concurso e fui dar aula no interior. Eu dava aula também de formação de professores, então tenho duas inscrições como professor do estado. E toda sexta-feira, eu saía da escola e ia para o bar. Na época eu gostava de bar. Gostava de beber. E num desses dias, eu estava sem grana e então peguei uma garrafinha em casa, enchi de cachaça e fui para o bar. Isso acontecia outras vezes: eu tomava cachaça, desinibia e me aproximava das pessoas para conversar e também para filar cerveja. Era uma estratégia que eu tinha para ficar a noite toda papeando, conversando, mesmo sem grana.

Mas naquela sexta-feira, quando já era de madrugada, um carro de polícia me achou na rua. Eu estava todo cheio de hematomas e fui levado para o hospital. A primeira suspeita que os amigos tiveram, e os médicos também, foi que eu tivesse sofrido um ataque homofóbico. Mas, depois, nos exames do hospital, viram que eu posso ter sofrido uma convulsão, e aí me debati no meio fio e gerou os hematomas. Até hoje eu não sei o que foi, se foi convulsão ou porrada que eu ganhei. Mas foi muito sério, porque eu fiquei em coma.

Quando saí do coma, eu não estava mais falando. Porque eu tive uma sequela, que é chamada de incoordenação motora, e não conseguia mais coordenar a minha língua para falar. Um lado ficou parado. Eu não conseguia andar também. E, claro, não conseguia mais tocar violão nem cantar. Como eu não podia mais trabalhar, me aposentaram. Eu fiquei com tempo livre, então a música começou a acontecer de novo. Lentamente, eu fui retomando a música, reaprendendo a falar, cantar, tocar. E fui formando esse perfil de artista que estou construindo. Se eu estou aqui falando com vocês e vocês estão me ouvindo, é porque eu estou construindo alguma coisa com a minha música.

Mas demorou para conseguir tocar novamente, porque precisei retrabalhar toda a minha coordenação motora. E um dos exercícios que me sugeriram, enquanto eu não podia fazer música, era manuscrever, para desenvolver novamente o que eles chamam de sintonia fina do movimento. Então eu comecei a escrever à mão para treinar minha coordenação. No começo, eu não conseguia nem assinar o meu nome.

Eu estava pensando sobre isso no caminho para cá: tem uma sequela física do coma, que foi o lance da voz, de não conseguir falar direito, e do movimento. Eu estava de cadeira de rodas. Mas tem uma sequela mental também. O negócio do coma dá uma achatada em você. É como se tudo se achatasse. Daí, quando você sai do coma, começa aos poucos a se abrir de novo. Tem todas aquelas sequelas físicas, mas tinha também algo na minha alma. Supondo que exista uma alma, isso também tinha sido achatado. Eu não sentia saudade de nada, eu não tinha emoção nenhuma. Só sentia fome, sede, vontade de ir ao banheiro, sono.

Era como se não tivesse mais nada dentro. E aí, quando eu comecei a escrever, foi como uma fisioterapia para dentro. Eu comecei a sentir de novo essas coisas que tinham sido destruídas. E comecei a escrever o meu primeiro livro, Cinema Orly. A escrita foi me formando de novo. Eu fui virando eu de novo à medida que ia lembrando e escrevendo minhas memórias. Aquilo foi me preenchendo de novo. No processo do livro, eu ria para caramba daquilo que estava contando, tinha saudades, o tesão começou a rolar de novo. Comecei a ter fantasia. Foi um processo de volta, de reconstruir tudo o que você é por dentro.

E quando foi que a música reapareceu?

Durante esse tempo eu não conseguia tocar ainda. E eu tentava, passei uns quatro anos tentando voltar, até conseguir fazer um “mizão” assim, no violão, com os dedos ainda duros. Não era um mi puro, era algo ainda muito bruto. E eu pedi para os meus parceiros da época, que era o Marcos Sacramento, a Mathilda Kovak e a Suely Mesquita, para fazer umas letras para mim. Tinha que ser algo diferente, porque a minha voz estava monocórdica também. Era tudo reto. Eu já sou monocórdio naturalmente. E lento. Mas com as sequelas fiquei muito mais. Então eu só tinha aquele “mizão” e a voz monocórdica, e pedi para os parceiros fazerem letras que fossem muito simples para eu tentar traduzir numa coisa retona, sem grandes voltas melódicas. Porque eu até poderia tentar alguma volta, mas se a letra tivesse muita volta de pensamento, eu não conseguiria reproduzir legal numa melodia.

Foi o Sacramento que me deu a primeira letra, chamada “Inferno”. Era uma letra bastante simples e direta, em cima do verso “aqui é o meu inferno”. Eu compus a canção só com o “mizão”. Na época eu achava aquilo muito reto. Mas eu voltei a tocar a música nos últimos tempos, junto com a banda, e percebi que não tem nada disso. Não é monocórdica como eu imaginava. Na minha cabeça, ao menos, ela passa uma impressão superforte. Não é uma música paradona e reta. Tem uma força na batida, no canto.

E foi assim que eu fui retomando, fazendo música com um acorde apenas, ou dois ou três. O máximo que eu conseguia era três acordes. E eu comecei a refazer meu repertório, com composições novas e também com músicas mais antigas que eu conseguia reproduzir com poucos acordes.

Em 2003, gravei o meu primeiro disco, Lua Singela, com produção do Paulo Baiano. As minhas músicas antes eram mais MPB, mas esse disco ficou mais rock’n’roll. Foi legal porque foi a primeira vez que pessoas que não eram próximas de mim começaram a me notar. A primeira cidade que me notou foi Salvador, por conta do pessoal que curte rock’n’roll lá na Bahia. 

Mas você tinha participado do disco coletivo Ovo antes, não é?

O Ovo foi um disco gravado por uma turma da minha geração de compositores, alguns parceiros meus, como o Marcos Sacramento, a Mathilda Kóvak e a Suely Mesquita, além de Pedro Luís, Bia Grabois e Arícia Mess. Eles estavam se reunindo para falar sobre música naquela época, mas eu não participava dessas reuniões, porque estava dando aula no interior, em Papucaia. E também não participei da gravação do disco, porque quando aconteceu eu estava em coma. Foi uma homenagem deles. Uma coisa muito bonita. Eles pegaram uma gravação antiga que eu tinha feito, da música “O Amor é Sacanagem”, e fizeram um arranjo em cima, com a Suely cantando junto comigo. E tem um coro de anjos que me faz lembrar o paraíso. Então, é uma música que ainda está dentro daquele registro anterior ao coma, com minha voz mais suave.

Depois do coma, você foi regravado por vários músicos, como Cássia Eller e Pedro Luís. Como foi isso?

O que aconteceu é que quando eu fiquei em coma, o Sacramento loucamente me internou num hospital particular, mas ele não tinha dinheiro para pagar a conta. E aí os amigos se juntaram para fazer um show no Teatro Carlos Gomes para arrecadar dinheiro. Era um hospital em Friburgo e o Ronaldo Bastos, que é o compositor do Clube da Esquina, é de lá e conseguiu uma anistia. O hospital pegou só o dinheiro do show e anistiou o resto da dívida. E os meus amigos fizeram tanto rebuliço com o meu coma que as minhas músicas foram parar na editora musical do Ronaldo Bastos, a Dubas.

Isso deu uma impulsionada nas minhas músicas. A Cássia Eller, por exemplo, conheceu a minha música lá e daí gravou “Maluca”. E isso até hoje repercute. Anteontem mesmo teve um show de uma cantora mais nova, a Júlia Vargas, e ela cantou junto com a Zélia Duncan a “Maluca”. Elas fizeram um canto muito lindo. Todo mundo que compõe adora ver suas músicas tocadas por outras pessoas, e é claro que pode ficar melhor ou pior, mas quando fica tão bonito como foi dessa vez, dá muita alegria.

E foi assim: antes do coma era eu com a minha música, em casa, fazendo um show ou outro de vez em quando. Mas depois do coma tudo começou a acontecer mais. Eu fiz discos, outros artistas mais conhecidos começaram a cantar as minhas músicas, como foi o caso do Pedro Luís gravando a “Máquina de Escrever”, e isso tudo foi trazendo um pouco mais de reconhecimento para o meu trabalho.

E a partir dessa sua volta, como ficou o processo de composição? Continuou procurando parcerias ou começou a compor e fazer as letras com mais frequência?

No meu segundo disco, o Cinema Íris, praticamente só coloquei letra minha. Tem uma ou outra parceria, como “Os Gestos das Mulheres”, que fiz com a Mathilda Kóvak, e “Romena”, com a Sueli Mesquita. Mas o resto é tudo meu. E vi que era bom, que ficou legal assim. Eu sempre fui inseguro com as minhas letras, mas fui ficando menos com o tempo. Ainda hoje eu posso pegar uma letra ou outra, fazer alguma parceria, mas já componho sozinho com mais segurança.

Como foi a produção do Cinema Íris?

Foi lenta. Eu fiquei gravando o disco entre 2008 e 2011. Até o disco realmente acontecer, tiveram algumas tentativas. Primeiro, com o Marcelo Maven, lá de Curitiba. Depois, com a Raquel Martins, de São Paulo. Ela foi parceira minha em “Apartamentozinho”. Mas acabou não rolando. Daí, o Paulo Baiano e o Marcos Sacramento fizeram o disco aqui no Rio, um produzindo e o outro fazendo a direção artística. Eu pensei o disco, até pelo título, como irmão do livro. Porque o Cinema Íris e o Cinema Orly ficam um ao lado do outro, lá perto da rua da Carioca, e são lugares de encontros. São neles que os rapazes solitários buscam a mesma coisa. E como o livro tinha sido bem recebido, achei interessante criar um diálogo com o disco. Mas são processos muito diferentes, o disco é coletivo, feito por um monte de gente, e o livro é solitário, só eu com os meus fantasmas e delírios. Cinema Íris é um disco que gosto muito e onde estão algumas das minhas músicas mais conhecidas, como “Eu Quero Ser Sua Mãe” e “Pessoas São Seres do Mal”.

Que são músicas que trazem essa quebra de paradigma do que seria a beleza numa canção, né? Tem um estranhamento não só na música, mas na letra, nos temas. O Rogério Skylab fala muito sobre isso, sobre essa conquista expressiva da sua música através da estranheza.

Ele fala sobre a minha voz monocórdia e a lentidão, né?

Mas as letras também são muito singulares: “Eu quero ser sua mãe / Te lambuzar com meu doce / E ficar matando as baratas que venham te comer”. Ou aquela outra, sobre o cara aleijado…

O “Poema Maldito”. Essa música foi inspirada numa história minha, mas a poesia é do Tive, que é um cara espanhol que tentou traduzir o Cinema Orly, mas não deu em nada, porque não conseguimos editora. Eu contei a história para ele, sobre um aleijado que flertou comigo no calçadão da praia de Icaraí, e ele fez a letra em espanhol. Eu fiz a música em português. O Tive me mandou com esse nome, “Poema Maldito”, e foi curioso porque pouco tempo antes o Ney Matogrosso tinha dado uma entrevista dizendo que faria um disco com canções dos malditos da MPB e me incluiu na lista, ao lado de Luiz Melodia, Jards Macalé, Jorge Mautner… Esse acabou também virando o título do disco, que é um disco onde eu saio um pouco do rock’n’roll e volto para uma música mais dedilhada, mais MPB. Eu não estou batendo, não estou espancando o violão, já estou conseguindo dedilhar de novo.

A sua literatura é muito autobiográfica, né? Cinema Orly fala de experiências que você viu e viveu, Rato

passa numa cabeça de porco e fala sobre a descoberta da sexualidade… Como foi a receptividade disso?

Olha, acho que meus livros têm uma maneira muito singular de olhar para a minha experiência. Quando eu fiz o Cinema Orly, eu mandei para várias editoras, e a única que respondeu foi uma editora LGBTQ+ de São Paulo. Só que respondeu sugerindo uma série de mudanças, dizendo que o livro tinha muita qualidade literária, mas era repetitivo e o personagem não se desenvolvia. Enumerou um monte de coisas, mas a principal delas é que ela queria que a história passasse uma visão positiva de um homossexual. Ela queria que o livro manifestasse positividade para o leitor. E eu falei que não mudaria nada. Até mesmo a coisa repetitiva que ela dizia, eu acho que a repetição é uma qualidade do livro, não é um defeito. Assim como o que ela achava menos positivo dentro das experiências narradas.

Mas eu disse que, se ela quisesse, eu poderia fazer um outro livro, dentro desse perfil de uma narrativa menos estranha. E escrevi o Rato, que também é baseado na minha própria vida. Ele se passa nesse período de juventude na cabeça de porco, e fala das pessoas que conheci lá, que eram muito diferentes. Mas as coisas foram acontecendo e eu acabei que nem mandei o livro para a editora. Foi até melhor assim, porque o livro saiu por uma editora grande, o que permitiu distribuição nacional. E depois eu fiquei pensando que até o nome do livro e do personagem principal, Rato, já não cumpria a ideia que aquela editora queria, de uma positividade no trato da questão LGBTQ+. Eu acabo sempre fazendo as coisas do meu modo e talvez seja por isso a estranheza. 

E o Diário da Piscina?

Eu acho que se o Cinema Orly é a minha recuperação da alma, a minha alma sendo reconstruída, o Diário da Piscina é a minha recuperação física, a reconstrução do meu corpo. Eu fiz fisioterapia no serviço público e eu queria voltar a tocar violão. Só que a fisioterapia do serviço público não tem noção das necessidades pessoais. Para eles era assim: se eu conseguisse amarrar o cardaço, abotoar a camisa, conseguisse colocar a colher e o garfo na boca, eu já recebia alta. A fonoaudióloga era a mesma coisa. Se eu conseguisse falar nítido, já estava tudo bem. Eu falava muito lento, mas tinha tanto esforço para falar que saía supernítido, perfeito. Então eu recebi alta dos tratamentos, mas não era o suficiente para mim. Eu queria voltar a tocar violão, a cantar. E a natação foi uma continuação do tratamento para mim. Porque nadando você começa a respirar melhor, mais forte, o que é bom para a voz, e o seu corpo se fortalece. No primeiro mês de natação eu já abandonei a bengala. Não precisei mais. Então eu acho que são os dois livros de recuperação, física e interior.

No Diário da Piscina há também muito tesão, né?

Você fala muito de desejo.

Eu acho que o tesão está em tudo, em todos os meus livros e na música também. Porque é o motivo de estar vivo, né?

Você pensa essa relação da arte como cura? Todos os processos artísticos, da escrita, da composição, foram importantes para você voltar a tocar violão, cantar…

E para ficar bonito também, né? Porque quando você está meio deformado, com problemas físico, você fica meio invisível também. Eu sou vaidoso, e daí você passa na rua e ninguém te olha… Quando eu abandonei a bengala, já começou a rolar uns olhares. As pessoas vinham pedir informação, por exemplo, que é uma coisa que ninguém mais vinha me pedir. E só de estar esperando o ônibus e vir aquela pessoa falar contigo, já é uma mudança. Aí quando eu abria a boca e saía aquela voz lenta pra caramba, às vezes as pessoas faziam um ar de decepção: “Pô, falei com a pessoa errada”. Porque as pessoas querem que você esteja normal. Mas não dá para fugir de ser essa pessoa. O que é até engraçado, porque quando vocês falam que a minha música foge da expectativa, a ideia não é essa. A ideia da minha música é ser agradável. É ser aceito, é ser ouvido. Eu agora estou aprendendo a fazer isso com os meninos que se juntaram a tocar comigo. Eu estou aprendendo a não ter medo de fazer a música ficar bonita. É quase tirar uma onda, sabe?

Mas quando você vai compor uma música, você pensa nisso? De fazer uma música agradável? Como é o seu processo de composição? O que costuma vir primeiro, a música ou a letra?

Eu estou há um tempo sem fazer música, como falei. Mas todo dia de manhã, quando acordo, tem uma coisa na minha cabeça. Outro dia, eu estava em casa e aí tinha uma música na minha cabeça. Um som, uma coisa. Aí eu fui para a janela, pensei “de onde está vindo isso?” Fui para um lado da janela, não era, fui para o outro lado e também não era. Dai entrei em casa de novo e era na minha cabeça. Eu moro num prediozinho entre dois morros, num vale, então os sons ficam pipocando em volta. E eu fico ali dentro do apartamento e esse som que está lá fora é o som de muita gente, de muita coisa. E esses sons todos se encontram numa unidade e fica aquela música na minha cabeça. Eu pensei em tirar essa música para o papel, mas acabei não fazendo.

E é todo dia. Eu acordo, vou no banheiro, vou escovar os dentes, arrumar o meu café, e tem uma melodia, um ritmo, uma coisa que está na minha cabeça. A música já está lá, tem esse motivo, é só pegar aquilo e desenvolver. Mas eu nunca faço porque de manhã a voz está muito para dentro ainda. E quando vai passando o dia eu acabo me esquecendo. A minha relação com a música, agora, é meio essa. Estou prestando atenção. Para quando chegar uma hora, se chegar a hora, evoluir tudo isso, transformar em canção. Mas agora é esse momento de estar atento, e também observar o que está acontecendo e para onde eu vou. 

Você pinta também, né? Faz retratos de mulheres, que você também diz que são autorretratos. Você já disse que “quando paro pra pensar no que estou fazendo, acho que minh’As Vizinhas de Trás são todas mamãe e são todas eu e n’outro dia, olhando pra elas juntas em minha parede, achei que fossem a mulher primordial, quer dizer, elas são Evas, a mãe primeira e comecei a viajar em sua afinidade com as serpentes e tal”…

Sim. Eu comecei a pintar porque o Pedro Paz é de São Paulo, mas quando me conheceu decidiu vir morar em Niterói. E ele trouxe uma caixinha de tinta. Eu comecei a fazer essa série que eu chamo de “As Vizinhas de Trás”. São como fotos 3×4. Acho que isso veio do primeiro contato que eu tive com pintura, ainda em Cachoeiro de Itapemirim, quando um vendedor ambulante levou para o trabalho da minha mãe uma foto dela, 3×4, ampliada e colorida. Eu lembro que achei aquilo lindo, o azul atrás, os arabescos. Eu gostei tanto que usei essa pintura na capa do meu terceiro livro, Mamãe Me Adora. Então eu fiquei marcado por isso e comecei a fazer os meus retratos 3×4 também. Eu penso esses retratos como se fossem aquelas pinturas do interior, como a que eu vi da minha mãe, e que ficam pendurada inclinadas na sala das casas de vila.

Comecei a fazer essas pinturas, que hoje eu penso que sejam uns autorretratos, embora sejam só mulheres. Eu pinto uma do lado da outra e é como se fosse a mesma coisa sempre. Eu faço sempre a mesma cara, só muda as cores. Muda uma coisa ou outra, um olho, o lábio, porque eu não consigo repetir igualzinho. Mas a ideia é repetir. Eu padronizei em telas no formato 60×20 cm, compridas, retangulares. E com a constância de fazer essas pinturas, se eu olho as primeiras que fiz, em 2009, e as que faço hoje, eu ganhei uma profundidade, uma definição. Eu consegui extrair desse exercício uma melhora.

Eu acho que a prática é um grande lance. Assim como na fala. Eu vou agora fazer uma série de conversas públicas sobre a minha trajetória para o Sesc, viajar pelo Brasil. Se vocês me entrevistassem daqui a três meses, ainda mais depois de Salvador, onde eu vou falar duas vezes ao dia durante cinco dias, provavelmente eu estaria bem mais afinado. Então esse negócio de repetir a mesma coisa, isso vai me dando um prazer mesmo. Vai me dando um prazer de ver o que vai surgindo, as pequenas mudanças em cada pintura, as pequenas melhoras com o tempo. Eu gosto da repetição nesse sentido.

Atualmente, quando você faz shows, você usa um manto todo enfeitado. Como surgiu isso?

Pois é, com o tempo eu fui vendo que algumas pessoas estavam prestando atenção em mim, e muitas vezes eram pessoas mais novas. Primeiro, foi em Salvador, na época do Lua Singela. Depois, com o Cinema Íris, um pessoal da Unicamp, lá em Campinas, me chamou para tocar na calourada deles. Foi lá que eu conheci o Vitor, que é da minha banda agora. E assim fui vendo pessoas que eu não conhecia antes, que não eram meus amigos, e que estavam prestando atenção na minha música. Uma dessas pessoas é o Bruno Cosentino, que foi importantíssimo para mim, porque ele gravou algumas músicas minhas, como a “Homens Flores” e a “Eu Quero Ser Sua Mãe” e ficou lindo. Isso também ajudou a chamar a atenção de músicos jovens no Rio.

Daí, teve uma vez que o Bruno me chamou para participar de uma apresentação dele, eu peguei uma roupa qualquer e fui. A roupa estava toda amassada e o Bruno todo bonito lá fazendo o show. Quando eu vi aquilo, acho que ninguém mais percebeu, mas eu pensei que não podia ficar aparecendo com a roupa toda amassada. Eu precisava de uma roupa para apresentar a minha música. E daí o Pedro beneficiou uma camisa velha que eu tinha e ficou superbonita. Eu fiz o primeiro show com ela, depois o segundo, mas não se pode se apresentar sempre com a mesma roupa. Então eu fui montando a camisa, incluindo outras coisas nela. Ficou uma coisa que lembra o Arthur Bispo do Rosário, porque a camisa foi se enchendo de coisas, foi virando um manto de apresentação. Um manto de apresentação de música e não de Jesus, né? E eu estou adorando. Não estou perdendo ainda a mão, não coloquei nada errado, na minha visão pelo menos. Eu acho que está tudo certinho, tudo harmônico, tudo combinando.

As pessoas começaram a me dar coisas para colocar no manto, eu acho outras coisas e incluo também. É uma coisa meio aleatória, não tem um plano. Como não tem um plano para os livros nem para as músicas. As coisas vão acontecendo. Quando eu era adolescente, eu até pensava em mais na frente, quando ficasse velhinho e já soubesse muita coisa, fazer um plano para escrever um livro. Mas acabou que eu ainda não fiquei velho e já fiz um livro, porque como eu tive coma e também porque eu achava que fosse morrer de AIDS, eu não sabia se chegaria a ficar velhinho mais. Em 1996, a AIDS ainda era uma coisa que quando uma pessoa pegava achava que ia logo morrer.

Eu penso se mais tarde vou fazer um projeto artístico ou se talvez o projeto até já exista, de uma forma inconsciente. Talvez os meus livros, as minhas músicas, tenham uma ordem, sejam parte de um projeto que só depois eu vou descobrir. 

Além do manto tem o totem que você leva para as apresentações. Como foi pensado isso?

Eu ganhei o totem. Eu não sabia nada de totem, mas daí eu fui fazer um show e o Alan, que é um cara de Niterói, deu um totem para o cenário. E eu gostei e fui procurar sobre o lance de totem, não me aprofundei tanto assim, mas vi que o totem é uma representação de um pai, de um ser masculino. Tem a história de um clã primordial que os filhos resolveram lutar contra o pai, porque achavam que o pai tinha privilégios, e acabaram assassinando ele. Mas isso gerou uma confusão tão grande no clã que eles resolveram voltar com o pai, e fizeram um totem para representá-lo.

Eu acho que isso tem um grande sentido para os shows, e para mim pessoalmente. O negócio da masculinidade, da paternidade. E também porque o totem é oco, então ele decanta energia. E o show é um lance que junta as pessoas, que cria muita energia. Eu comecei a ficar viajando em um monte de coisas em relação ao totem. Por exemplo, eu não tenho pai. Eu nunca tive pai, minha mãe dizia que meu pai estava morto. Então eu não matei meu pai, mas ele é um pai morto. O totem tem esse lance de representação do pai e também o lance coletivo, das energias. Eu sei que o totem é só um símbolo, uma coisa simbólica, e é um objeto superfrágil, supersingelo, que não tem uma força real. Mas é algo que me faz bem de ter junto nos shows.

E acaba sendo importante também, porque atualmente eu tenho feito shows nas casas de amigos, nas casas das pessoas que me convidam. São shows pequenos, para poucas pessoas, mas que tem sido uma proposta muito legal. E o totem e o manto servem para dar uma cara de espetáculo em lugares que não são feitos normalmente para shows. Cria um ambiente, fica superbonito, as pessoas gostam, ficam feliz. Os amigos que aceitaram minha proposta de shows em casa curtiram muito. Essa é uma coisa boa que vem acontecendo.

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