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Palavras Andantes: Georgina Herrera (Cuba)

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Georgina Herrera, nasce, descendente de iorubás, em 23 de abril de 1936 em Jovellanos, atual município da província de Matanzas (Cuba). Ela aprende com seu avô, Narciso, que fora escravizado, a cultivar o orgulho da herança africana e a rebeldia “cimarrona”. Em 1961, ela se incorpora ao Instituto Cubano de Rádio e de Televisão, vindo a trabalhar na Rádio Progresso como copista. Mais tarde, fará sua estreia como roteirista de programas sobre dramas históricos, o que, além de lhe proporcionar uma pequena renda, permite-lhe acesso a novos textos. Entre outros, GHe publicou “GH” (1962, Ediciones El Puente), “Gentes y cosas” (1974, Ediciones Union), “Granos de Sol y Luna” (1978, Ediciones Union), “Grande es el tiempo” (1989, Ediciones Union) e “África” (Ediciones Manglar y Uvero, 2006).

ORIKI PARA AS NEGRAS VELHAS DE ANTES

Nos velórios

ou na hora em que o sono

era aquele manto

que cobria os olhos

elas eram como livros fabulosos abertos

em páginas douradas.

As velhas negras, bicos

de misteriosos pássaros,

contando

como em uma canção, o que antes

havia chegado a seus ouvidos,

éramos, sem saber, donas

de toda a verdade escondida

no mais profundo da terra.

Mas nós, que agora

deveríamos ser elas, fomos

contestadoras,

não soubemos ouvir; tínhamos

cursos de filosofia,

não acreditávamos,

havíamos nascido demasiadamente perto

de outro século. Só

aprendemos a perguntar sobre tudo

e, no final, ficamos sem respostas.

Agora, na cozinha, no pátio,

em qualquer lugar, alguém,

tenho certeza, está esperando

que contemos o que

deveríamos ter aprendido,

Permanecemos silenciosas,

parecemos tristes

papagaios mudos.

Não soubemos

se apoderar da magia de contar

simplesmente

porque nossos ouvidos estavam fechados,

eram teimosamente surdos

ante a graça de ouvir.

*

ÁFRICA

Sempre que a menciono

ou sempre que for

nomeada em minha presença

será para elogiá-la.

Eu cuido de você.

Ao seu lado permaneço,

como ao pé da maior árvore.

Penso nas águas de seus rios

e meus olhos ficam rasos d’água. Este rosto, feito

de suas raízes, torna-se

espelho para poder nele

vê-la. Em meu pulso

você é como uma pulseira de ouro

– tanto brilha -;

soa como búzios escolhidos

para que ninguém se

esqueça de que está viva.

Todo lugar para onde me volto

me leva a você.

Minha sede, meus filhos

a frágil onda que me

arrasta para o amor

têm a ver com você.

Essa delícia que o vento sonha

ou a chuva cai

ou o relâmpago me abate, igual.

Amo esses deuses

com histórias assim, como a minha:

indo e voltando da guerra

para o amor ou vice-versa.

Você pode fechar

calmamente em repouso

seus olhos, deitar-se

por um momento em paz.

Eu cuido de você.

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