SUSANA THÉNON. Nasceu na cidade de Buenos Aires, em 1935. Cómo poeta, foi uma caçadora solitária, um fulgor esquivo e órfão de linhagens e parentescos, mesmo que não de descendência: talvez por sua desenvoltura e seu irônico feminismo é uma das poetas argentinas mais lidas entre xs jovens. Filha de um famoso psicanalista e uma leitura insaciável, nunca pareceu se interessar pelos circuitos literários do que poderíamos chamar “sua ´época”. Durante anos, foi fotógrafa de profissão, e cantora de tangos e milongas em lunfardo — que traduzia para o latim — por vocação. Morreu em 1991. Sua obra reunida, La morada imposible (tomos I y II), foi publicada em 2001.
por que grita essa mulher?
por que grita?
por que grita essa mulher?
vai saber
essa mulher, por que grita?
vai saber
olha que flores bonitas
por que grita?
jacintos margaridas
por quê?
por que que?
por que grita essa mulher?
e essa mulher?
e essa mulher?
vai saber
estará louca essa mulher
olhe olhe os espelhos
será por seu corcel?
vai saber
e onde ouviu
a palavra corcel?
é um segredo essa mulher
por que grita?
olhe as margaridas
a mulher
espelhinhos
passarinhas
que não cantam
por que grita?
que não voam
por que grita?
que não atrapalham
a mulher
e essa mulher
e estava louca mulher?
Já não grita
(se lembra daquela mulher?)
*
O corpo,
é nada mais que tudo.
(A alma é um cansanço
magnificado,
um escape superlativo
e radiante).
*
bom
estou morta
e quero divertir-me
vamos
onde está tudo?
não há ninguém?
sim
sim
passa um brilho pela janela
estou lá fuera
e você lá dentro
joga com o espelho
me tapa um olho com sol
bem feito
porque estou morta
e quero divertir-me
já posso entrar?
ainda não?
que espere?
como antes?
um pouco mais?
como antes
os espelhos
o sol
eu lá fora
você lá dentro
ainda não?